Ponto de partida para uma reflexão sobre a morte

A psicanálise freudiana aborda a questão da morte em várias etapas de sua estruturação: a castração, primeira grande experiência de separação, as perdas e o luto que somos forçados a realizar, as introjeções e identificações com cada um desses objetos perdidos, constituindo e reconstruindo nosso caráter e, por fim, a idéia de uma pulsão de morte, a tendência de toda energia vital em encontrar seu irredutível destino, o estado inorgânico, colocando fim a Eros, o perturbador do absoluto estado de inexistência.

É bem verdade qe Tânatos convive com Eros, Tânatos se funde a Eros e se alimenta de sua energia. Eros também depende de Tânatos, afinal a energia vital só pode existir se for reciclada, reorganizada. Mas nesse processo, há um limite. Lentamente, parte da energia se perde. Princípio da entropia, grandeza mensuradora da parcela de energia que não pode mais ser transformada em trabalho.

Aqui se encontra todo o limite da palavra sobre a morte. A morte é o resultado da vida e não pode ser significada. A experiência da morte somente pode ser feita pelo outro e nunca comunicada. Como, então, significar a vida? Ou, pelo menos, significar uma vida?

Não é uma psicanálise das representações que se perfaz, mas a psicanálise do real. Uma psicanálise que está além da linguagem. Uma psicanálise do impossível. Ponto de partida.

Frederico Celentano